sábado, 16 de outubro de 2010

amiga minha disse do éter, do vento, do urubu. disse da década do agora. do ciclo. da roupagem do tempo. do apocalipse.
amiga minha tem coração em brasa. Conhece vida, conhece gente, conhece alma.
Queria poder com ela fazer o dito: banho de cachoeira, brincadeira na lama.

falamos sobre o abismo, a Dança.
"Abismo é onde o urubu caga. Porque eu nunca vi urubu cagando"
Ainda devo reflexão a vida e a amiga. Ainda volto aqui pensar disso tudo.

O peso da alma é o duro do corpo.

assim seja, o d'agora.
O abismo é passível de se enfrentar pela Dança.
A ventania apenas começava. Forte, intensa.
O tempo-outro abismava passagem.
Todos tentavam segurar seus pertences.
Vento forte. Bravo.
Depois aconteceu que no céu se via redemoinhos.
Compridos, longos. De susto e beleza.
Foi que fugi. Corríamos em direções todas a procurar abrigo.
Dali se chegou a proximidade com o furacão. Imenso, se aproxima.
De lado a outro tentava-se correr, mas não foi. Eu. Escolhida fui.
Escolhida de mim, por mim, para mim.
O redemoinho me perseguia. Sem poder recuar, paro e uma nuvem se faz, sobre minha cabeça. Cai chuva.
Quando espera-se que tudo acabe, lá vem um abutre.
Fora de céu. No chão. A encontrar um jeito-maneira de cagar.
Do susto o aumento tanto. Um abutre cagando.
Fixada imagem. Fim de ventania. Espaços, silêncio.
Olhar o céu e vê-se que de mais longe vem uma maior tempestade.
Agora negra, menos bonita e mais insegura.
Em tempo de preparo e conhecimento de causa. Rompemos lance de esconder-se.
Proteger-se. Sim. Maior coragem.
Quando se olha para traz, a novidade, novinha. O tempo desfez.
Calmaria houve.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

31... 31...
Abençoada ainda: durante o dia pude lambuzar-me com uma manga bourbon e sentir o cheiro de mato.
Na semi-liberdade.
Lá cortam gramas e bate-se o cartão do almoço.
Trinta e um... Trinta e um... a infância permanece viva.

domingo, 3 de outubro de 2010

A casa

No tempo, a casa do possível... Papai ralhava na construção da casa do sonho.
Primeiro, a minha, menina.
Brincava entre as cadeirinhas acolchoadas inventando a casa nossa.
No depois, vi que ele construia bloco por bloco a casa nossa.
Aquele tempo, o mais velho de nós ficou para trás.
Da nossa casa, um quintal imenso se abria. Árvores de variados entortamentos, o cajueiro em flores. Bicho de tipos, outros.
Detrás montanha imaginavámos mais alto sonho de ver mar. Mar aberto, mar sem desenho, só ventania.

Três Marias

As três moças nascidas na beira do rio, recebia em sua travessia os tropeiros que vinha de longe atravessar margens.
No tempo e no quando foi que as moças brincavam a beira d' água. Foi que não sabiam que naquele dia a água vinha desregulada.
Uma a uma, foi entregar à água a travessia pro lugar do não sei onde.
A primeira moça, na perdida busca do meio foi quem se afogou primeiro. A água construída a tempo de levá-la pro centro do desconhecido espaço, do encantamento...
Foi que a outra, esbarrado espanto buscou encontrar na vida da água viva o mar do inalcançado alcance. Tentou ao meio, encontrar a moça do meio. Tentou negócio ação. A água veio e levou.
Foi que a terceira à luz do atravessamento, buscou achar horizonte outro. Travessar travessia. Desencontro, desencanto. Desengonço. O tempo fluiu. Navegante, navegável.
Sigo adiante. O tempo trespassado... Espaços de angústia, fome, ressentimento e dor. O humano, des-humano.
O que tenta comunicar, simplesmente não comunica.
O ato, desata, engasga. Lança fogo. Dragões maiores e menores.
Descuido, descaso.
Enquanto isso, o sangue escorre pelo tempo. A sombra do passado envolta a do presente.
Seguimos, seguintes, cegos.